Bruno Marinho: Estrada afora, um pequeno andarilho macaibense
- por Bruno Marinho
- 23 de jan. de 2017
- 2 min de leitura
Ruas tão sujas, nuas e cruas. Exalam uma triste realidade, emergida pela sociedade que muito se sente sem esperança. Em suas andanças, Paulo se sente diferente, não se percebe exigente, apenas respira o que a cidade tem de melhor. Vejam só. Quando anda nas ruas pintadas pelo sangue de macaibenses, ele só enxerga o azul e o verde, cores tão latentes na cidade. A sua compassividade é bela e de ninguém ele espera compreensão. Quase em solidão, desce o 35, sobe o Auta de Souza, pisa num chão único e sente o cheiro úmido daquelas ruas tão antigas. Ele não liga para o mal impregnado na cidade, apenas abraça e distribui o bem que vem de quem não faz desdém desse interior, e com muito amor, sorri quando diz para seu amigo distante que sua morada está num instante único no tempo.
Paulo caminha no Alfredo Mesquita, se esquiva em becos estreitos, desemboca no Campo da Mangueira e, sem besteira, conversa com indivíduos com semblantes tão cansados. Apesar disto, arranca sorrisos cada vez mais escassos pela labuta da vida. Agora ele trilha a Olimpo Maciel e se depara no IPE, sem notar sequer que o Vilar tinha visitado, o Ferreiro Torto admirado e que boa parte do Centro já tinha caminhado. Foi atravessado por um carteiro que o interrompeu e perguntou a hora que seu relógio marcava. Quando reparou, já estava há horas caminhando, reparando, e aquilo tudo amando.
Ao reparar que a lua se espreguiçava ao céu, pensou e lamentou consigo mesmo. Sentiu pena, mas não dos lugares que andou e visitava com frequência. Era a essência das pessoas que não enxergavam o melhor da sua moradia que o fazia sentir esse lamento. Entretanto, quando a lua preparava seu descanso e o sol começava a abrir a cortinas do céu, Paulo olhava para fora da sua casa e notava uma neblina que disfarçava uma vista longínqua. Ali ele percebia que, apesar das pessoas neblinarem aquela cidade com um mal que teima em escurecer a beleza de sua moradia, o sol e as pessoas que enxergavam o azul e o verde como ele limpariam com o tempo a sua Macaíba.
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