Bruno Marinho: O ingresso da minha vida

por Bruno Marinho
7 de ago. de 2017
2 min de leitura

Era amplo e parecia frio. Escuro, mas confortável. Pisei naquele lugar com uma bolsinha do Senninha e algumas ruffles, que na época era um pacote cheio de batata. Irmão e seus amigos me acompanhavam. Na minha primeira ida ao cinema, não comi pipoca, mas apreciei tudo que tinha direito. E fui mais além, pois ali foi um portal para um novo mundo. Um lugar do qual jamais sairia. Me prendi naquela prisão, mas nunca havia me sentido tão livre.

Meus olhos não se mexiam, tentando abraçar cada centímetro daquela enorme janela depois de ter sido aberta. Minhas pernas não balançavam e eu estava completamente imóvel. A boca semiaberta, congelada no tempo. Mas o coração... Esse parecia circular por todo meu corpo petrificado. Palpitava como se um grande amor tivesse surgido. Era inebriante a sensação de ter sido algemado numa poltrona. O filme, Matrix Revolution, era só um argumento que o Cinema me impunha para justificar essa prisão em que fui colocado.

O filme chegava ao fim e ouvi uma voz sussurrando no meu ouvido que eu jamais seria livre. Que eu era seu, e ele era meu. Essa voz saia por aquela janela e o Cinema me proclamava mais previsões, pois ele tinha a certeza que me possuía e eu o faria ser um abraço para momentos de incertezas e tristezas, bem como a mina da felicidade. Ao fim da noite, ouvi Billy Idol e até o fim dos tempos lembrarei dessa música e desse instante no tempo, como se eu estivesse numa própria narrativa com uma própria trilha sonora.

Cá estou, depois de 15 anos, relatando que ainda estou preso. Que esta é a prisão que ficarei retido para sempre, pois só ela me dá, paradoxalmente, uma liberdade que jamais sentirei. Viajo, repouso, fico eufórico ou leve, acompanho pensamentos e memórias, alegro-me e me entristeço, descubro amores e ilusões, e assim vivo... Deixando minha mente trilhar caminhos por aquela enorme janela que me mostrou minha maior paixão, o cinema.