Domingos Sávio de Oliveira: Um café filosófico
- da Redação
- 26 de jul. de 2017
- 3 min de leitura
Por Domingos Sávio de Oliveira
Em uma daquelas tardes chuvosas que caracteriza os meses que antecede o verão nordestino estamos sentados à mesa no tradicional café na casa do meu avô Celso Lyra de Oliveira, o famoso café logo após o almoço, uma das tradições herdadas dos colonizadores portugueses que aportaram no nosso litoral ao longo dos séculos XVI, XVII E XVIII, a mesa farta, o tradicional café depois do almoço e claro colocar os assuntos em dia, tradição dos portugueses do norte, é na casa dos Oliveira, dos Lyra, dos Paiva e Maciel não podia ser diferente. Em um desses tradicionais cafés sou surpreendido com uma conversa que naquela época me soaria estranho: “Domingos meu neto :na vida não podemos nos ater na aparência temos sempre que buscar a essência das coisas”, esse dialogo inicial para uma criança de dez para onze anos parecia surreal, porém anos mais tarde já na fase adulta percebi que aquela conversa filosófica nada mais era que uma introdução à dialética hegeliana. Quem imagina que aquela conversa entre aquele senhor de oitenta anos, bem vivido, e seu neto pré-adolescente encerrava-se com aquela afirmação está redondamente enganado, a conversa apenas estava no inicio: “as coisas nuca é o que aparentam, sempre existe algo além da forma das coisas”, é continua, “é como ver um rio que sempre esta em movimento, alterando constantemente as margens e seu curso, um observador desatencioso toda a vez que olhar o rio afirmará que o rio é sempre o mesmo, já um observador atento a cada vez que olhar o rio sempre verá um novo rio,pois, vai perceber as transformações que o rio fará ao longo do seu curso”. Como todo o jovem que começa a descobrir o mundo entro naquele café filosófico: vovô é se eu congelar o rio? Vejo aquele sorriso no rosto, uma pausa e novamente ele dispara; ”Domingos meu neto um dia o rio vai descongelar e continuará com seu curso transformador, tudo na vida é transformador”, olho para ele franzindo levemente a testa como alguém que pouco tá compreendendo aquele conversa, percebendo meu olhar ele muda de tática e resolve mudar o objeto do exemplo. Naquele momento vai entrando na sala meu tio Mario, o filho casula, Mario receberá esse nome em homenagem ao medico Mario Lyra, tio do meu avô e irmão da minha bisavó Estephania Lyra; voltando ao fato: “Mario meu filho venha até aqui”, quando o meu tio chega perto vejo o meu avô pegar um pedaço de barbante e diz:” levante a barra da calça”em seguida amarra o barbante na perna do meu tio Mario e logo a seguir baixa a barra da causa e retoma o dialogo” veja meu neto que rapaz vistoso, bonito, boa aparência porem vejamos: Mario meu filho levante a barra da calça”, é olhando aquele barbante amarrado na perna do seu filho, me olha e completa,” veja esse rapaz tão bonito, bem vestido boa aparência, porem por baixo a roupa olha o tamanho da ferida na perna”. A pausa e quebrada por uma rápida rizada e em seguida pergunta: “compreendeu agora a aparência e a essência?” essa foi à forma que anos depois entendi que foi a maneira simples que meu querido avô encontrou para introduzir para o seu neto um pouco da dialética de Hegel. Meu avô foi uma figura muito marcante na minha formação intelectual, aquele homem, alto, corpo esguio em plena forma, voz suave, porém firme... Cabelos brancos olhos claros com todas as características de filho e neto de senhor de engenho, porém tinha uma característica marcante, era um liberal com uma cultura e uma vasta formação humanista, amava a poesia e a literatura, essa era algumas das características marcante do meu avô Celso Lyra de Oliveira, filho do Major Heraclio Jesuíno de Oliveira, senhor do engenho Utinga. Celso nascido em 18 de maio de 1895.

Imagem: Ilustração
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