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Macaíba dá adeus a Dona Irene Santos, patrimônio educacional e cultural da cidade

  • da Redação
  • 5 de jun. de 2017
  • 5 min de leitura

Por Rômulo Estânrley


A cidade de Macaíba perdeu um verdadeiro patrimônio nas áreas educacional e cultural da cidade, na noite da última sexta-feira, dia 2 de junho de 2017: dona Maria Irene Alves dos Santos, de 88 anos.

Ela faleceu em sua casa, por volta das 20h30, vítima de um rompimento da veia aorta, principal artéria do corpo humano. Antes disso, havia se dirigido à UPA, mas a equipe médica não conseguiu diagnosticar o problema que ela enfrentava. Após ter uma melhora, recebeu alta e foi para casa.

Seu corpo foi velado no Centro de Velório Prevenir (ao lado da Prefeitura de Macaíba), em que teve um grande comparecimento popular para se despedir da educadora.

Dona Irene Alves é mais conhecida em Macaíba por ser a mãe dos ex-vereadores Elias Alves e Eduardo José dos Santos Filho (o Rodo). A educadora levava uma vida doméstica tranquila, ao lado de seus familiares, lúcida, esperta, sadia, cuidando do lhe era necessário.

“Agradeço a Deus, na pessoa de Jesus Cristo, toda a minha existência e benefícios que ele me tem feito!”, enfatizou sua devoção ao Evangelho, na ocasião em que foi entrevistada por mim, como parte de uma série de biografias feitas para o extinto jornal Potiguar Notícias, edição 423, de 7 de maio de 2012, ao qual transcrevo parte da conversa abaixo:

IRENE ALVES: AMOR PELO MUNDO DAS LETRAS


Em um determinado momento de sua vida, ela poderia ter optado por seguir outro ramo profissional mais vantajoso financeiramente. Mas preferiu ouvir seu coração e tornar-se professora!

Na adolescência, teve acesso ao mundo das artes, experimentando o teatro e, mais tarde, a poesia. Mas foi o árduo ofício das letras que lhe proporcionou experiência e satisfação pessoal.

A trajetória de vida da professora aposentada Maria Irene Alves dos Santos serve de reflexão para o macaibense de hoje, para que este procure entender, por exemplo, o porquê de anos atrás haver estímulo às artes e, atualmente, com todo o aparato estrutural e tecnológico, não.

Irene Alves nasceu no dia 10 de fevereiro de 1929, no distrito de Pirpirituba, em Guarabira-PB. É filha de Manoel Olinto Alves e de Luzia Maria da Costa, ambos falecidos em 1940 e 1991, respectivamente. Dona Irene é um dos dez filhos do casal, cuja maioria já faleceu. São seus irmãos: José, Maria do Carmo, Maria da Luz, João, Otávio, Alzira, Antônio, Alcides e Marizete.

Quando tinha apenas dois anos de idade, a família de “seu” Manoel Olinto se mudou para Macaíba em busca de melhoria de vida. E se instalou na comunidade de Brejinho, que pertencia a dona Domitila (propriedade onde hoje se encontra o Parque Otaviano Pessoa). Lá, serviu de acampamento para muitas famílias de Macaíba, na maioria da Rua Frei Miguelinho, durante a eclosão da chamada Intentona Comunista de 1935. “Não entrava, nem saía gente de Macaíba, porque os soldados fizeram piquetes na entrada (na Rua da Aliança) e na saída (na Rua Frei Miguelinho)”, relembrou.

Em pouco tempo, “seu” Manoel Olinto, que era marchante, comprou uma casa na Rua Major Antônio Delmiro (antiga “Viração”). “A feira daqui era quase toda abastecida por meu pai, que também fornecia caminhões de carne para Natal. Acompanhei meu pai em muitas dessas viagens”, lembra, acrescentando que seus irmãos José Lino e João Lino deram prosseguimento ao ofício do pai.

A opção religiosa de dona Luzia Maurício da Costa pelo protestantismo gerou divergências entre ela e seu marido, causando a separação do casal, em 1938. Por conta disso, ele foi morar na Rua Benjamim, vindo a faleceu dois anos depois, vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Já dona Luíza teve de criar seus oito filhos (dois deles haviam falecido). Quanto a Irene Alves, esta conheceu as primeiras letras aos 4 anos de idade, com a professora Emília Rodrigues do Nascimento, acompanhando sua irmã, Maria do Carmo. E se destacou. Daí, em 1936, foi para a Escola São Vicente de Paula, com a professora Fefa, que tinha sido amiga de Auta de Souza e que esta teria dedicado um soneto para a educadora no livro “Horto”.

Depois, aos 9 anos, Irene estudou na Liga Operária (onde hoje é a sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Macaíba), com a professora Renê Mesquita, em que cursou as 1ª e 2ª séries do primário. Em seguida, foi para o Grupo Escolar Auta de Souza, para cursar as 3ª e 4ª séries. Suas professoras foram Nazaré Madruga e Dalila Cavalcanti Rocha. Naquela época, estudaram vários colegas que se destacaram na sociedade macaibense, entre o futuro comerciante José Pinheiro Borges Filho, Constância e as filhas de Neco Lima.

A jovem estudante já demonstrava sua afinidade com o mundo das artes. Na sua adolescência, encenou peças de teatro juntamente com as filhas de Joca Leiros, cujas aulas eram ministradas pelo professor Luiz Cúrcio. Ela também produziu, ao longo de sua vida, vários poemas que foram transcritos para um caderno que Irene guarda em casa. Numa conversa, a veterana educadora adiantou que pretende publicar suas poesias, mas não tem ideia de quando fará isso. Na ocasião, mostrou esboços de desenhos que ela fez tempos atrás, numa demonstração de talento também para as artes visuais.

Irene só estudou até a 6ª série, em 1943. Sua última professora foi Conceição Cunha. Lembra que, na época, o prefeito de Macaíba era o major Genésio Lopes da Silva (1941-1944).

Estimulada por sua professora Conceição Cunha, para que fizesse o concurso para a estrada de ferro de Natal, optou pelo ofício das letras, pois percebeu que tinha vocação para o ensino. “Minhas notas eram boas! Eu só tirava 90 e 100”.

Aos 14 anos, foi ser professora provisória em Bela Vista (entre as comunidades de Barro Duro e Jenipapo), hoje pertencente ao município de São Gonçalo do Amarante, mas que, naqueles tempos, era território macaibense. Com 16 anos de idade, foi lecionar na Escola Reunida Dr. João Chaves, em Mangabeira, substituindo Inaudi Monteiro do Amaral, nas 3ª e 4ª séries. Após a transferência de Naide Damasceno para Natal, que lecionava as 1ª e 2ª séries, Irene assumiu as quatro turmas da escola, durante onze anos.

No final de 1949, a educadora, por ser amiga da família Santos, conheceu o seu futuro marido, Eduardo José dos Santos, que havia chegado do norte e sudoeste do país (havia sido seringueiro no Amazonas e guarda territorial no Acre. “Ele estava na calçada do bar de Zé Distinto. Aí, me acompanhou até a uma festa que o irmão dele, delegado Joaquim Eduardo dos Santos, estava fazendo no sótão da Cadeia Pública, na Rua Dr. Francisco da Cruz”, relatou sobre o início do romance.

O namoro foi iniciado, seguido de casamento, que foi realizado no dia 7 de setembro de 1950, após o desfile cívico da Escola Reunida Dr. João Chaves. Dessa união amorosa, nasceram dez filhos: Maria das Graças, Marize, José David, Samuel, Daniel, Elias, Ester, Dalva, Marta e Eduardo (o Rodo).


Dona Irene se converteu ao Evangelho no dia 14 de agosto de 1955, após ter tido um sonho mostrando os dois caminhos que ela poderia escolher para percorrer na vida.

Em 1957, pediu ao então prefeito José Jorge Maciel para ser transferida para a sede do Município, na Escola Isolada Dona Emília, localizada na antiga Rua 7 de Setembro (que hoje é a Rua Dona Emília), onde lecionou de 1957 a 1973.


Depois, foi para o Grupo Escolar Auta de Souza, onde se aposentou em 1976. Lá, trabalhou na biblioteca e auxiliava a diretora Mariluza Almeida na 1ª do turno intermediário, voltando à sala de aula para poder se aposentar.

Dona Irene Alves conviveu com “seu” Eduardo José por 35 anos, quando este faleceu aos 66 anos, em 10 de janeiro de 1990.


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