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O dia em que o pão tomou café

  • da Redação
  • 2 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

De Domingos Sávio de Oliveira* para Martha Rique Uma das tradições herdadas dos colonizadores portugueses que aportaram no nosso litoral ao longo dos séculos XVI, XVII E XVIII, foi o tradicional almoço familiar do domingo. A mesa farta, o tradicional café depois do almoço e claro colocar os assuntos da semana em dia, tradição dos portugueses do norte, é na casa dos Oliveira, dos Lyra, dos Paiva e Maciel não podia ser diferente. Em um desses almoços tradicionais estávamos todos reunidos na casa do meu avô Celso Lyra de Oliveira, e quando falo todos, estou me referindo a muita gente, não era menos de 15 a 20 pessoas entre tios, tias e primos.

Claro, após o almoço o tradicional café, eu estava sempre na minha cadeira cativa que não sedia para ninguém. Cadeira essa que ficava exatamente ao lado direito do meu avô e logo nas nossas costas aquele centenário relógio que tanto me fascinava. Bom, à história do relógio fica para depois, afinal o tema é outro. A conversa naquele verão de 1975 gira exatamente nessa tradição Portuguesa da mesa farta, do cafezinho e de colocar e socializar os fatos cotidianos da semana, do almoço familiar. Eu a olhar meu avô Celso fazendo aquela narrativa meus olhos brilhavam, meu avô desenvolvia sua tese olhava e girava lentamente a sua xícara de café. De repente sou interrompido com uma pergunta do meu avô, com aquela voz suave e firme, me olha e dispara “Domingos, meu neto, você sabia que um dia o Pão tomou café”?

O olhar admirado devolvo: “Meu avô, como o pão tomou café?”, ele me olha carinhosamente com aqueles olhos claros e profundos e diz, "pois bem, vejamos", então começa a narrativa, e eu claro entro na maquina do tempo... Vamos para Macaíba, o ano 1930 ou 1933, já não lembro com tanta certeza... Era também um daqueles almoços tradicional no Cassarão do Major Heráclio Jesuíno de Oliveira. Casarão situado na Rua da Cruz, no centro da cidade de Macaíba, nesse dito dia ainda mais especial, pois tinha a presença de Edith de Oliveira Rique, uma das filhas do meu bisavô, e de seu marido que não residiam na Utinga, moravam na Paraíba.

Após o almoço, o tradicional café. Claro, não era um café qualquer. Para não fugir a tradição ibérica o café era quase um bis do almoço. A mesa compotas de doces, queijos, bolos e pão de milho, tudo preparado no forno à lenha... Sentados em volta da grade mesa (mesa esta que no tempo presente estava bem aqui e foi testemunha da narrativa), o Major Heráclio Jesuíno de Oliveira, minha bisavó Estefânia Lyra de Oliveira, meu avô, minha avó Sophia Maciel de Oliveira, os irmão, cunhados e cunhadas do meu avô, as crianças que claro como toda família de origem ibérica não eram poucas não, dentre, elas presentes o meu Pai Olavo Maciel de Oliveira e a prima Martha de Oliveira Rique, ambos nascidos em 1928, um em dezembro e a outra em agosto.

A conversa girava ao redor de dois temas centrais a produção da Utinga e sobre política, Juvenal Lamartine então governador, claro, era a outra pauta... Conversa de adulto. A as crianças, claro, a tomar café, que pela nossa tradição tem que começar logo na primeira infância e a desenvolver o bom habito da conversa em torno da xícara de café... Pausa, voltamos a 1975 e eu continuara atento curioso para saber a onde aquela conversa iria levar... Voltando para a Utinga... Com a palavra meu avô Celso... "Paralelamente Olavo e Martha travavam um dialogo muito particular, Olavo mergulhava o pão de milho no café, Martha a olhar e observar, em pouco tempo Martha respondia o dialogo, mergulhava o pão no café comia e saboreava aquela nova descoberta, porém algo inesperado tira a atenção de Martha e o pão de milho mergulha docemente no café....


Os adultos continuam na sua pauta “Juvenal Lamartine”, sem perceber o dialogo das duas crianças... Repentinamente um choro quebra a conversa dos adultos, e meu pai pergunta: "o que aconteceu minha neta Martha? E a minha sobrinha Martha acompanhada pelo choro solidário do meu filho Olavo, claro criança sempre é solidaria com a outra; responde chorando: "o pão bebeu meu café", e aquela risada geral tomou conta da sala, no dia em que o pão tomou o café de minha sobrinha Martha”.

Saindo do túnel do tempo, quero dedicar essa pequena crônica, aos dois protagonistas desse dialogo. Meu pai, Olavo Maciel de Oliveira, que já não está entre nós, e a prima Martha de Oliveira Rique Reis que também já não esta entre nós, Martha viveu no Rio de Janeiro onde desenvolveu toda a sua vida pessoal e profissional teve filho, netos e ainda nos deu, a todo Brasil a bela voz de seu filho Aquiles Rique Reis que compõe um dos maiores grupos da historia da nossa musica o MPB4. *Professor, escritor, mestre em ciências sociais e bisneto do Major Heráclio Jesuíno de Oliveira senhor do engenho Utinga.


Foto: Cassarão "Véu de Noiva", do Major Heráclio Jesuíno de Oliveira, na rua da Cruz, no centro de Macaíba. Fonte: Instituto Tavares de Lyra

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