Espaço do Leitor - Primeiro-Damismo: A Mulher na Política em Sociedades Patriarcais
- da Redação
- 14 de fev. de 2017
- 2 min de leitura
Por Juliette Araújo
Existem pautas das quais não podemos nos eximir, assuntos onde o silêncio se torna opressor e reprodutor de desigualdades históricas. Discutir o Primeiro-Damismo e o lugar atribuído à mulher no espaço político das sociedades patriarcais é um desses temas. Não há como se calar diante do enaltecimento de uma prática que fomentou o assistencialismo, travestindo direitos em favores, e marginalizou o espaço de participação política da mulher.
O Primeiro-Damismo no Brasil está situado conceitualmente a partir da década de quarenta, onde as esposas dos Presidentes da República eram responsáveis pela condução da política de Assistência Social no Brasil. Esta prática perdurou até a década de oitenta, fundamentada em caridade e clientelismo, cuidar dos menos favorecidos era ocupação das primeiras-damas, consideradas “mães” dos desprovidos.
Com a Constituição Cidadã de 1988, se estabelece o Sistema de Seguridade Social, como uma política pública, dever do Estado e direito dos Cidadãos, um avanço indiscutível na política de Assistência Social no Brasil. Entretanto, atualmente, assistimos a retrocessos que enaltecem práticas de Primeiro-Damismo.
Precisamos compreender o que o Primeiro-Damismo expressa essencialmente, quando este reafirma valores patriarcais de submissão na relação entre homem x mulher, reproduzindo-os nas relações políticas. O espaço político da mulher torna-se exclusivamente o de “coadjuvante” da construção política de seu esposo, que ocupa constitucionalmente a função na administração pública.
Não há reconhecimento legal a função de primeira-dama, que resume seu papel a representações diplomáticas, onde podemos citar o caráter voluntário que Marcela Temer, Primeira-Dama do Brasil, exerce no Programa Social Criança Feliz, voltado à assistência das crianças pobres nos primeiros três anos de vida.
“Bela, Recatada e do Lar”, essa descrição foi atribuída a Primeira-Dama Marcela Temer na Revista VEJA, agora vamos refletir um pouco sobre esses adjetivos. Bela, que padrão de beleza se reafirma com essa premissa? Recatada, que comportamento passivo é defendido aqui? Do Lar, que ocupação está sendo reservada às mulheres? Marcela Temer é livre, inclusive para fazer estas escolhas, mas reafirmar esse padrão fortalece contextos históricos de opressão presentes em nosso país desde o período colonial.
Opressão onde nós mulheres éramos consideradas intelectualmente inferiores, quando inférteis, éramos inúteis, falávamos apenas quando interrogadas pelo nosso pai ou esposo, ainda assim com muito constrangimento, não tínhamos direito a caminhar sozinhas na rua, aprendíamos desde cedo as prendas domésticas, treinadas na arte de cozinhar, costurar, limpar, etc.; não tínhamos direito ao voto, não podíamos construir carreira profissional, pois nosso padrão era “Bela, Recatada e do Lar”, e isto, “diferente de Marcela Temer”, não era escolha nossa, pois fomos confinadas a esfera privada, a vida pública era um privilégio masculino, cabia a nós, impositivamente, cuidar do lar, educar os filhos e atender ao esposo. A prática de Primeiro-Damismo aliena direitos, precariza a construção de políticas públicas e subalterniza a participação política da mulher!
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